quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Quem é que não gostava de viver aqui? hum...

O paraíso das cobras está sob ataque aéreo

Por Luís Francisco

A ilha de Guam, no Pacífico, é um paraíso tropical armado até aos dentes. Quase um terço deste território sob administração dos EUA está ocupado por bases militares. O resto fica para as pessoas. E para as cobras

"Desde que o navegador português Fernão de Magalhães, na sua viagem de circum-navegação do globo, em 1521, a pôs no mapa, a história da ilha de Guam, a maior e mais meridional do arquipélago das Marianas, oceano Pacífico, não tem sido isenta de episódios dramáticos. Durante a II Guerra Mundial foi tomada pelos japoneses. No final desse conflito, começou outra invasão, mais silenciosa: a das cobras castanhas arborícolas (Boiga irregularis). Agora, ao cabo de décadas de pesadelo ecológico, surgiu uma nova ideia para controlar a praga.

Guam não tinha qualquer espécie de serpente nativa à excepção de uma pequena cobra subterrânea, daquelas que normalmente confundimos com vermes. Gerações e gerações de habitantes deste paraíso tropical no Pacífico Oeste, actualmente uma região não incorporada dos EUA (o que quer dizer que a Constituição americana não se aplica ali e há um governo próprio), habituaram-se a viver num meio ambiente dominado, em termos de fauna, pelos lagartos e aves.

Até que, um dia, logo após a II Guerra, durante o processo de transferência das instalações militares americanas de outras ilhas da região para Guam, um passageiro clandestino arribou ao território. Tinha olhos grandes, corpo magro, gostava de subir às árvores e manifestava um apetite preferencial por aves e pequenos lagartos. Na ilha, claro, não havia qualquer predador natural para lhe fazer frente. Nos anos que se seguiram, os sustos foram o sinal mais sério de que algo estava a mudar na vida dos habitantes de Guam.

As cobras castanhas arborícolas desembarcaram e sentiram-se de imediato em casa. Naturais da Papua-Nova Guiné, ilhas Salomão e Austrália, estes répteis de hábitos nocturnos descobriram nas florestas do interior da ilha um verdadeiro lar. Melhor, até, do que o original: nas zonas de onde provêm, as cobras enfrentam alguma escassez de presas. Em Guam, pelo contrário, elas estavam por todo o lado. E nem sequer fugiam, porque não reconheciam o predador.

Os efeitos foram devastadores. Para começar, as cobras castanhas, que "em casa" alcançavam comprimentos entre um e dois metros, desataram a crescer em Guam, onde já foram registadas serpentes de três metros. Depois, reproduziram-se em grande ritmo e representam, neste momento, uma verdadeira praga: estima-se que existam mais de 49 cobras por hectare, uma das maiores concentrações de serpentes do planeta. Para se ter uma ideia, isto significa uma a cada 200m2, mais ou menos a superfície de um court de ténis...

Se ainda não está suficientemente arrepiado, faça as contas: Guam tem 54.130 hectares, um pouco mais do que a ilha do Pico, nos Açores. Ou seja... 2.652.370 cobras castanhas arborícolas. Mais cobra menos cobra.

(...)"

2 comentários:

  1. Estou arrepiada. Quando acabei de ler tinha os cabelos em pé. Odeio cobras, sem dúvida esta ilha corresponde ao meu ideal de paraíso. Quanto custo um bilhete só de ida?

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  2. Elsa,
    não faço a menor ideia mas aposto que é daqueles destinos super caros.

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